O "Público" e a pré-verdade
No jornal “Público” de hoje, um título encimando, em toda a largura, a primeira página dizia : “Banco de Portugal
abre a porta a reavaliar gestão do Montepio”.
É um título gritante que só pode suscitar uma impressão
negativa do que se passa no Montepio. E nada indica que se trate de um resultado involuntário de um mero acaso
noticioso.
Mas vejamos. Que factos se anunciam? Uma decisão do
Banco de Portugal quanto ao Montepio ? Não. Simplesmente a abertura de uma
porta que pode eventualmente ser
atravessada por uma decisão. Mas ainda não o foi e não é certo que o venha a
ser.
E qual é a causa dessa porta aberta? Uma decisão do Montepio efetivamente tomada
? Não. Apenas uma tentativa que não foi consumada, por força do funcionamento dos
mecanismos de controle interno do próprio Montepio.
Ou seja, não se notícia a prática de nenhum ato
ilegal, nem a ocorrência de qualquer decisão. Mas a notícia de uma não-decisão
por causa de uma não-ação. É uma notícia ou uma não-notícia convertida num
ataque ao Montepio?
É certo que eu pude verificar tudo no que estou a
dizer lendo o próprio texto do jornal, mas a mais ingénua criança percebe que o
destaque dado e o modo como foi feito é uma fortíssima publicidade negativa
contra o Montepio, baseada em dois não factos.
Quero acreditar que na base de tão insólita operação
noticiosa esteve apenas uma pulsão irresistível do sensacionalismo que ambiciona
vender jornais. Sem segundas intenções. Mas quem porventura quisesse
enfraquecer Montepio, tentando
desvalorizá-lo e empurrá-lo para a esfera privada para depois lhe deitar a unha
a baixo preço, não poderia deixar de considerar o destaque em análise como um
presente providencial.
Os atuais e os ex- crânios financeiros ( e talvez os
seus mandantes) que colocaram em mãos estrangeiras quase toda a banca
portuguesa, não estarão eventualmente saciados.
A CGD , a grande presa, apesar
de continuar sobre a virtuosa pressão dos partidos de direita e de alguns dispersos
e virtuosos arcanjos que se julgam de esquerda, parece resistir. Mas sobram ainda presas menores:
o Montepio e as CCAM. Há a chatice de não serem privadas, uma vez que os seus
titulares são entidades da economia social. Talvez enfraquecendo-as se lhes
possa deitar a unha. Talvez.
Terá alguma coisa a ver com isto o folhetim tecido
em torno do Montepio?
Talvez sim. Talvez não. Mas que há coisas que
parecem bruxedo, lá isso há.
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