quarta-feira, 22 de março de 2017

O "Público" e a pré-verdade



O "Público" e a pré-verdade

No jornal  “Público” de hoje, um título encimando, em toda a largura, a primeira  página dizia : “Banco de Portugal abre a porta  a  reavaliar gestão do Montepio”.
É um título gritante que só pode suscitar uma impressão negativa  do que se passa no Montepio. E nada indica que se trate de um resultado involuntário de um mero acaso noticioso.

Mas vejamos. Que factos se anunciam? Uma decisão do Banco de Portugal quanto ao Montepio ? Não. Simplesmente a abertura de uma porta que pode eventualmente  ser atravessada por uma decisão. Mas ainda não o foi e não é certo que o venha a ser. 

E qual é a causa dessa porta aberta? Uma decisão do Montepio efetivamente tomada ? Não. Apenas uma tentativa que não foi consumada, por força do funcionamento dos mecanismos de controle interno do próprio Montepio.

Ou seja, não se notícia a prática de nenhum ato ilegal, nem a ocorrência de qualquer decisão. Mas a notícia de uma não-decisão por causa de uma não-ação. É uma notícia ou uma não-notícia convertida num ataque ao Montepio?

É certo que eu pude verificar tudo no que estou a dizer lendo o próprio texto do jornal, mas a mais ingénua criança percebe que o destaque dado e o modo como foi feito é uma fortíssima publicidade negativa contra o Montepio, baseada em dois não factos.

Quero acreditar que na base de tão insólita operação noticiosa esteve apenas uma pulsão irresistível do sensacionalismo que ambiciona vender jornais. Sem segundas intenções. Mas quem porventura quisesse enfraquecer  Montepio, tentando desvalorizá-lo e empurrá-lo para a esfera privada para depois lhe deitar a unha a baixo preço, não poderia deixar de considerar o destaque em análise como um presente providencial.

Os atuais e os ex- crânios financeiros ( e talvez os seus mandantes) que colocaram em mãos estrangeiras quase toda a banca portuguesa, não estarão eventualmente saciados. 

A CGD , a grande presa, apesar de continuar sobre a virtuosa pressão dos partidos de direita e de alguns dispersos e virtuosos arcanjos que se julgam de esquerda, parece resistir. Mas sobram ainda presas menores: o Montepio e as CCAM. Há a chatice de não serem privadas, uma vez que os seus titulares são entidades da economia social. Talvez enfraquecendo-as se lhes possa deitar a unha. Talvez.

Terá alguma coisa a ver com isto o folhetim tecido em torno do Montepio?

Talvez sim. Talvez não. Mas que há coisas que parecem bruxedo, lá isso há.

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