Delacroix - A liberdade guiando o povo
A
força dos de cima está na disseminação desorientada das revoltas dos de baixo.
Muitas vezes elas defrontam-se, anulando-se. Muitas vezes caminham
apressadamente para lado nenhum.
Os
poucos de cima querem inculcar nos povos
a ilusão de que está no incremento da sua riqueza, que prometem um dia distribuir,
a salvação da humanidade. Mas eles próprios criaram um automatismo predatório de
que agora dependem e que controlam cada vez menos ; o qual traz no seu bojo o
perfume negro das catástrofes.
Mas
a sobrevivência da humanidade está cada vez mais nas mãos dos muitos de baixo,
na grande orquestra humilhada dos povos da terra.
Orquestra,
fixem bem. Uma orquestra de revoltas que se conjuguem harmoniosamente numa
sinfonia emancipatória. Uma orquestra e não um ajuntamento caótico de revoltas que se devorem e anulem entre si
num paroxismo suicida. Como hoje , em grande medida, acontece.
Não
se dispensa o rufar rude dos tambores, nem
o trovejar altivo das trombetas. Mas não pode esquecer-se a subtil luz
dos violinos, nem o calor humano dos maestros. Não pode desprezar-se a
partitura.
Não
chega o rasgar aflito de uma guitarra sozinha, nem o trovejar dos trompetes que
se fechem em si próprios.
É
urgente uma orquestra dos de baixo, um pertinaz acordar das multidões dispersas.
É preciso escrever a partitura, ouvindo sempre os mestres da revolta e o leve
sussurrar do pensamento.
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