terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Necessidade de uma orquestra

                                                                     Delacroix  - A liberdade guiando o povo

A força dos de cima está na disseminação desorientada das revoltas dos de baixo. Muitas vezes elas defrontam-se, anulando-se. Muitas vezes caminham apressadamente para lado nenhum.

Os poucos  de cima querem inculcar nos povos a ilusão de que está no incremento da sua riqueza, que prometem um dia distribuir, a salvação da humanidade. Mas eles próprios criaram um automatismo predatório de que agora dependem e que controlam cada vez menos ; o qual traz no seu bojo o perfume negro das catástrofes.

Mas a sobrevivência da humanidade está cada vez mais nas mãos dos muitos de baixo, na grande orquestra humilhada dos povos da terra.

Orquestra, fixem bem. Uma orquestra de revoltas que se conjuguem harmoniosamente numa sinfonia emancipatória. Uma orquestra e não um ajuntamento caótico  de revoltas que se devorem e anulem entre si num paroxismo suicida. Como hoje , em grande medida, acontece.

Não se dispensa o rufar rude dos tambores, nem  o trovejar altivo das trombetas. Mas não pode esquecer-se a subtil luz dos violinos, nem o calor humano dos maestros. Não pode desprezar-se a partitura.

Não chega o rasgar aflito de uma guitarra sozinha, nem o trovejar dos trompetes que se fechem em si próprios.


É urgente uma orquestra dos de baixo, um pertinaz acordar das multidões dispersas. É preciso  escrever a partitura, ouvindo sempre os mestres da revolta e o leve sussurrar do pensamento.

Sem comentários: