A inquisição económica das agências de notação continua a condenar-nos ao inferno do lixo. Mas os mercados da dívida soberana, noutros casos tidos como sacrossantos, têm-nos deixado frequentar o paraíso dos juros baixos.
Que pecado é o nosso
que nos faz ser condenados ao inferno por uns, para nos deixar repousar no
paraíso pelos outros? Sendo que uns e outros estão, alegadamente, ungidos pela
mesma santidade que os conduz a uma objectividade serena e férrea.
É estranho; quase
parece que a sua santidade tem os pés de barro e a sua objectividade é apenas
um embuste de uma subjectividade bem pesada.
Quase podia garantir,
perante tão contraditórios julgamentos, que o serviço de uns e outros é muito
menos aquilo que quer fazer parecer do que aquilo que lhes dita a função de
peças estratégicas da produção ideológica do capital financeiro.
De facto, se uns e outros,
ou alguns deles, não são tontos, a parafernália de instrumentos informáticos e
de técnicos de ponta que se espraiam pelas suas salas, não são na verdade
instrumentos para identificar conjunturas económicas e para informarem
investidores, levando-os a directivas desencontradas que os desqualificam. Estamos
apenas perante pesquisadores de argumentos que possam ser colocados ao serviço
das estratégias politicas de teor algo vampiresco dos grandes centros de poder
financeiro mundial e dos poderes institucionais que os exprimem e suportam.
A directiva é afundar
a Grécia? Disparem-se as munições guardadas que façam parecer que a Grécia é um
caos em potência. A palavra de ordem é salvar a Irlanda? Dispare-se o fogo de
artifício que a transporte até ao céu da tranquilidade. Quanto a Portugal, está
para se ver ? Ponha-se um lado a distribuir cachaços e outro a ministrar
afagos.
Que os beneficiários
deste embuste de luxo e os donos desta matilha de excelência paguem regiamente
aos atores e autores deste “grande teatro económico” pode compreender-se. Que
os poderes públicos, que deviam representar os povos agredidos, também paguem á
canzoada que os morde, parece-me um tanto ou quanto estúpido. Talvez não seja
corrupção ilegal, talvez nem sequer seja pecado, mas é estúpido.
Sem comentários:
Enviar um comentário