sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O capital financeiro e as matilhas assimétricas.



[ Nos jornais de hoje: Juros da dívida inauguram novo ano abaixo de 2,6% , mas o rating de crédito continua em "lixo financeiro".]

A inquisição económica das agências de notação continua a condenar-nos ao inferno do lixo. Mas os mercados da dívida soberana, noutros casos tidos como sacrossantos, têm-nos deixado frequentar o paraíso dos juros baixos.

Que pecado é o nosso que nos faz ser condenados ao inferno por uns, para nos deixar repousar no paraíso pelos outros? Sendo que uns e outros estão, alegadamente, ungidos pela mesma santidade que os conduz a uma objectividade serena e férrea.

É estranho; quase parece que a sua santidade tem os pés de barro e a sua objectividade é apenas um embuste de uma subjectividade bem pesada.

Quase podia garantir, perante tão contraditórios julgamentos, que o serviço de uns e outros é muito menos aquilo que quer fazer parecer do que aquilo que lhes dita a função de peças estratégicas da produção ideológica do capital financeiro.

De facto, se uns e outros, ou alguns deles, não são tontos, a parafernália de instrumentos informáticos e de técnicos de ponta que se espraiam pelas suas salas, não são na verdade instrumentos para identificar conjunturas económicas e para informarem investidores, levando-os a directivas desencontradas que os desqualificam. Estamos apenas perante pesquisadores de argumentos que possam ser colocados ao serviço das estratégias politicas de teor algo vampiresco dos grandes centros de poder financeiro mundial e dos poderes institucionais que os exprimem e suportam.

A directiva é afundar a Grécia? Disparem-se as munições guardadas que façam parecer que a Grécia é um caos em potência. A palavra de ordem é salvar a Irlanda? Dispare-se o fogo de artifício que a transporte até ao céu da tranquilidade. Quanto a Portugal, está para se ver ? Ponha-se um lado a distribuir cachaços e outro a ministrar afagos.


Que os beneficiários deste embuste de luxo e os donos desta matilha de excelência paguem regiamente aos atores e autores deste “grande teatro económico” pode compreender-se. Que os poderes públicos, que deviam representar os povos agredidos, também paguem á canzoada que os morde, parece-me um tanto ou quanto estúpido. Talvez não seja corrupção ilegal, talvez nem sequer seja pecado, mas é estúpido.

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