Sentaram-se circunspectos e graves num restaurante suave com
os verdes da paisagem intrometendo-se na brancura das toalhas, com peso e
medida. Acompanhava-os um Candidato com o sorriso guloso de quem agradece.
Ele estava ali para agradecer a subida honra de um apoio. Os
quatro estavam ali como destinatários pesados dessa honra e como sujeitos da
ostensiva transcendência desse apoio.
Com solenidade um dos apoiantes leu um texto em nome dos
quatro. Num gesto que oscilou entre a generosidade e a hipocrisia o Candidato
que ali não estava recebeu uma palavra amiga. O Candidato que ali estava foi
ungido com a larga bênção dos quatro tigres. Uma bênção irrestrita, generosa e
vaga que o alcandorou ao pedestal de uma vocação irreprimível de vencedor e ao
luminosos destino de salvador do PS, da esquerda e do país.
Uma brisa exaltante perpassou pelos sorrisos contidos
daquela fé tão forte. Os tigres e o Candidato apoiado soltaram confiantes a
esperança. Estava ali um vencedor e isso mesmo era atestado solenemente.
Esperava-se no rugido
dos quatro a afirmação de ideias que procurassem o futuro, que o antecipassem na imaginação socialista
de quem não se deixa fechar no cinzento triste que nos asfixia. Esperava-se ao
menos a impregnação da preferência pelo Candidato ungido, por uma razão política substancial que
traduzisse um caminho próprio que o outro não seguisse. Em vão, apenas a fé
plana de que com este Candidato nós ganharemos o campeonato e com o outro não.
Calculo que o almoço tenha decorrido com toda a elegância e
alguma melancolia, absorvido pelo apoio suave, concedido com gravidade e
circunspecção ao Candidato que agradeceu. No plano da disputa interna do PS,
foi certamente uma almoço rentável para o Candidato apoiado. Politicamente, no
entanto, foi um almoço triste.
4 comentários:
Porreiro. Quando estás chateado salta-te a ironia para o teclado e escreves melhor
Não vejo onde está o mal:
- São 4 já empregados, ie, a esses já pagamos
- Na Republica só valem 4 votos, com qualquer anónimo de Penamacor.
Como militante do PS vejo com aprensão e trizteza o fraccionamento do Partido.O mais estranho é que se trata de uma luta incaracterística , pois não se vê o debate de ideias e a apresentação de propostas concretas, mas sim o uso de chavões , lugares cumuns , slogans e frases feitas.Sobre a grave situação que o país atravessa , a crise do Euro e a recessão económica na Europa , nem uma palavra é prununciada.
4 pacatos cidadãos sentados a almoçar num restaurante conversarão sobretudo nas primarias do PS ou outra coisa qualquer e então, tem algum coisa com isso...ou a liberdade de dialogar em público passou a ser crime?
É por essas e por outras que aconteceu o que aconteceu na Itália, na Alemanha e Portual nos idos dos anos 20/30 do passado século.
OLHAI OS LIRIOS DO CAMPO...EUI NAMORADO.
DISSE UMA VEZ Eurico Veríssimo.
DE O "cATRAIO" RESPEITOSAMENTE
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