Sentaram-se circunspectos e graves num restaurante suave com
os verdes da paisagem intrometendo-se na brancura das toalhas, com peso e
medida. Acompanhava-os um Candidato com o sorriso guloso de quem agradece.
Ele estava ali para agradecer a subida honra de um apoio. Os
quatro estavam ali como destinatários pesados dessa honra e como sujeitos da
ostensiva transcendência desse apoio.
Com solenidade um dos apoiantes leu um texto em nome dos
quatro. Num gesto que oscilou entre a generosidade e a hipocrisia o Candidato
que ali não estava recebeu uma palavra amiga. O Candidato que ali estava foi
ungido com a larga bênção dos quatro tigres. Uma bênção irrestrita, generosa e
vaga que o alcandorou ao pedestal de uma vocação irreprimível de vencedor e ao
luminosos destino de salvador do PS, da esquerda e do país.
Uma brisa exaltante perpassou pelos sorrisos contidos
daquela fé tão forte. Os tigres e o Candidato apoiado soltaram confiantes a
esperança. Estava ali um vencedor e isso mesmo era atestado solenemente.
Esperava-se no rugido
dos quatro a afirmação de ideias que procurassem o futuro, que o antecipassem na imaginação socialista
de quem não se deixa fechar no cinzento triste que nos asfixia. Esperava-se ao
menos a impregnação da preferência pelo Candidato ungido, por uma razão política substancial que
traduzisse um caminho próprio que o outro não seguisse. Em vão, apenas a fé
plana de que com este Candidato nós ganharemos o campeonato e com o outro não.
Calculo que o almoço tenha decorrido com toda a elegância e
alguma melancolia, absorvido pelo apoio suave, concedido com gravidade e
circunspecção ao Candidato que agradeceu. No plano da disputa interna do PS,
foi certamente uma almoço rentável para o Candidato apoiado. Politicamente, no
entanto, foi um almoço triste.