sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Duplicidade ou premonição ?


Acabo de ver imagens na televisão da parte final das campanhas para as primárias no PS.

Comparo duas das imagens que vi. António José Seguro foi interpelado em Gaia, sozinho. António Costa foi interpelado no Porto, mas entre os poucos rostos focados bem juntinhos ao dele como pano de fundo, foi bem sublinhada a presença de Guilherme Pinto, eleito em 2013 para a Câmara de Matosinhos numa lista que combateu e venceu a lista autárquica do PS.


Há aqui todo um simbolismo que dá que pensar. Será que na esteira de uma hipotética vitória de António Costa seria concedido a todos os militantes o direito de apresentarem listas de alternativa às do PS nas próximas eleições autárquicas?

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

ALMOÇO - quatro tristes tigres.


Sentaram-se circunspectos e graves num restaurante suave com os verdes da paisagem intrometendo-se na brancura das toalhas, com peso e medida. Acompanhava-os um Candidato com o sorriso guloso de quem agradece.

Ele estava ali para agradecer a subida honra de um apoio. Os quatro estavam ali como destinatários pesados dessa honra e como sujeitos da ostensiva transcendência desse apoio.

Com solenidade um dos apoiantes leu um texto em nome dos quatro. Num gesto que oscilou entre a generosidade e a hipocrisia o Candidato que ali não estava recebeu uma palavra amiga. O Candidato que ali estava foi ungido com a larga bênção dos quatro tigres. Uma bênção irrestrita, generosa e vaga que o alcandorou ao pedestal de uma vocação irreprimível de vencedor e ao luminosos destino de salvador do PS, da esquerda e do país.

Uma brisa exaltante perpassou pelos sorrisos contidos daquela fé tão forte. Os tigres e o Candidato apoiado soltaram confiantes a esperança. Estava ali um vencedor e isso mesmo era atestado solenemente.

Esperava-se  no rugido dos quatro a afirmação de ideias que procurassem o futuro,  que o antecipassem na imaginação socialista de quem não se deixa fechar no cinzento triste que nos asfixia. Esperava-se ao menos a impregnação da preferência pelo Candidato ungido,  por uma razão política substancial que traduzisse um caminho próprio que o outro não seguisse. Em vão, apenas a fé plana de que com este Candidato nós ganharemos o campeonato e com o outro não.


Calculo que o almoço tenha decorrido com toda a elegância e alguma melancolia, absorvido pelo apoio suave, concedido com gravidade e circunspecção ao Candidato que agradeceu. No plano da disputa interna do PS, foi certamente uma almoço rentável para o Candidato apoiado. Politicamente, no entanto, foi um almoço triste.