quinta-feira, 17 de abril de 2014

Coimbra, 17 de abril de 1969



Coimbra, 17 de abril de 1969

o barco do tempo naufragava
nos baixios  dos anos circulares

nesses dias penosos que cercavam
cada gota de esperança  de alegria

o vento foi  revolta que subiu
nos gestos construídos braço a braço

botas lentas e sujas de um império
passavam desmedidas sobre nós

abril  foi um mês desembainhado
num dia que se ergueu até ao fim

ficou no meio de nós como um amigo
aberto já à  luz de um novo dia

na sombra desmaiada  dos saberes
imaginámos tudo mais além

e Coimbra mais que uma cidade
foi a rosa do tempo desfolhada

na velha academia uma vez mais
imaginou-se nova  a liberdade

não souberam cercar-nos os poderes
que gelavam os dias desse tempo

não puderam calar-nos os poderes
já podres num cansaço lento e frio

e vinham a caminho incendiados
os cavalos do tempo  de outro tempo

cravos novos foram pressentidos
vermelhos como a própria liberdade

nós fomos o avesso da saudade
fomos futuro sendo tempestade

e aqui estamos inteiros sendo povo
fieis a esse tempo e ao que há de vir

                        (Rui Namorado / 17 de Abril de 2014)

2 comentários:

Rodrigo Santiago disse...

No coments. Desnecessário. Um abraço. Rodrigo Santiago.

JGama disse...

Muito bem!
Mais um belo poema do Rui, em cima das comemorações.