terça-feira, 18 de março de 2014

Homenagem a Medeiros Ferreira



Há anos que não falava com ele. O Jorge Strecht convidou-o a participar num colóquio sobre a Europa que o Clube Manifesto promoveu em Coimbra, no passado dia 1 de fevereiro. Convite que aceitou prontamente. Chegou de véspera. O Luís Marinho, o Nuno Filipe e eu, jantámos com o Medeiros Ferreira. A sua cordialidade, a sua inteligência, a sua vasta e diversificada experiência de vida, floresceram com naturalidade. Pareceu-nos fisicamente débil, mas o seu pensamento continuava solidamente ancorado no futuro. Assistiu à parte final da sessão da manhã do colóquio e à primeira da tarde. Quando chegou a vez da sua intervenção , na sessão moderada pelo Jorge Strecht que partilhou com o Luís Marinho,  Medeiros Ferreira encheu a sala com o fluir do seu saber, da sua experiência e do seu humor. Esquecemos a sua debilidade e fruímos o seu discurso rasgado e  consistente sobre a Europa, bem afastado do ronronar estereotipado dos alegados especialistas. Pouco tempo antes saiu um livro seu sobre a mesma temática. Indispensável para se compreender onde estamos e para onde podemos ir. Bem distante dos lugares comuns do “europês” corrente, bem  enraizado na história e ajudando-nos a pensar o futuro.

Conheci José Medeiros Ferreira, nos longínquos anos sessenta, quando o salazarismo me expulsou da Universidade de Coimbra por dois anos e me obrigou assim a ir estudar para Lisboa. Os ecos da crise de 62 faziam-se sentir fortemente. Medeiros Ferreira fora escolhido para liderar as AAEE de Lisboa , através da RIA. Depois, a vida afastou-nos. Viríamos a reencontrar-nos mais tarde, ambos deputados pelo PS  na Assembleia da República, na segunda metade dos anos 90.

Foi Ministro, Deputado e Deputado Europeu; professor universitário, historiador e publicista. Não ficou fechado em nenhuma destas qualidades , em nenhuma destas funções. Pelo contrário. O seu nome foi acolhendo naturalmente todas elas, tornando-se maior. Intelectual e político, acertou e errou, como é humano. Mas quando acertou fê-lo com brilhantismo e quando errou fê-lo com lógica e inteligência.

É um lugar comum dizer que o perdemos, mas não podemos deixar que a saudade se converta numa melancolia que adormeça. A saudade que nos una a quem de algum modo nos marcou só pode ser uma solidariedade para com um futuro a que não queremos renunciar. Uma homenagem.

É essa homenagem que deposito na tristeza da Maria Emília com essa solidariedade.

2 comentários:

JGama disse...

Bela homenagem! Tive o grande benefício de assistir a esse momento em que nos falou da Europa no dia 1 de Fevereiro.

Rodrigo Santiago disse...

Estou, além dos demais, com o Dr. JG.
Tínhamos, de comum, além de tudo o que é importante, o facto da comum ascendência açoreana. Rodrigo Santiago.