Há anos que não falava com ele. O Jorge Strecht convidou-o a
participar num colóquio sobre a Europa que o Clube Manifesto promoveu em
Coimbra, no passado dia 1 de fevereiro. Convite que aceitou prontamente. Chegou
de véspera. O Luís Marinho, o Nuno Filipe e eu, jantámos com o Medeiros
Ferreira. A sua cordialidade, a sua inteligência, a sua vasta e diversificada
experiência de vida, floresceram com naturalidade. Pareceu-nos fisicamente
débil, mas o seu pensamento continuava solidamente ancorado no futuro. Assistiu
à parte final da sessão da manhã do colóquio e à primeira da tarde. Quando
chegou a vez da sua intervenção , na sessão moderada pelo Jorge Strecht que partilhou
com o Luís Marinho, Medeiros Ferreira
encheu a sala com o fluir do seu saber, da sua experiência e do seu humor.
Esquecemos a sua debilidade e fruímos o seu discurso rasgado e consistente sobre a Europa, bem afastado do
ronronar estereotipado dos alegados especialistas. Pouco tempo antes saiu um
livro seu sobre a mesma temática. Indispensável para se compreender onde
estamos e para onde podemos ir. Bem distante dos lugares comuns do “europês”
corrente, bem enraizado na história e
ajudando-nos a pensar o futuro.
Conheci José Medeiros Ferreira, nos longínquos anos
sessenta, quando o salazarismo me expulsou da Universidade de Coimbra por dois
anos e me obrigou assim a ir estudar para Lisboa. Os ecos da crise de 62
faziam-se sentir fortemente. Medeiros Ferreira fora escolhido para liderar as
AAEE de Lisboa , através da RIA. Depois, a vida afastou-nos. Viríamos a
reencontrar-nos mais tarde, ambos deputados pelo PS na Assembleia da República, na segunda metade
dos anos 90.
Foi Ministro, Deputado e Deputado Europeu; professor
universitário, historiador e publicista. Não ficou fechado em nenhuma destas
qualidades , em nenhuma destas funções. Pelo contrário. O seu nome foi
acolhendo naturalmente todas elas, tornando-se maior. Intelectual e político,
acertou e errou, como é humano. Mas quando acertou fê-lo com brilhantismo e
quando errou fê-lo com lógica e inteligência.
É um lugar comum dizer que o perdemos, mas não podemos
deixar que a saudade se converta numa melancolia que adormeça. A saudade que
nos una a quem de algum modo nos marcou só pode ser uma solidariedade para com
um futuro a que não queremos renunciar. Uma homenagem.
É essa homenagem que deposito na tristeza da Maria Emília
com essa solidariedade.
2 comentários:
Bela homenagem! Tive o grande benefício de assistir a esse momento em que nos falou da Europa no dia 1 de Fevereiro.
Estou, além dos demais, com o Dr. JG.
Tínhamos, de comum, além de tudo o que é importante, o facto da comum ascendência açoreana. Rodrigo Santiago.
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