quinta-feira, 25 de abril de 2024

 

Homenagem ao 25 de Abril

                 - cinquenta anos depois

 

1. Melancolia em Abril

 

As flores de Abril

já são conchas de pedra debruçadas no tempo,

violinos cansados pelos dedos antigos,

ou alarmes caindo  pelas escarpas do medo.

 

Mas os olhos em riste que desejam futuros

continuam escavando  sem os braços caídos.

 

Não deixemos que Abril seja folha caída

que o cortejo dos meses vai deixando para trás.

 

Não deixemos que Abril seja o tempo que passa

de si próprio perdido por não querer regressar.

 

Não deixemos que esqueça sua própria guitarra,

nem que fuja das ruas,

nem que seja saudade.

 

2. A liberdade guiando o povo

 

Acenderam-se os cravos neste dia

numa festa de luz e alegria

e a liberdade saiu guiando o povo

pelos largos caminhos do futuro.

 

A Lisboa chegaram naus de esperança

vindas do sul do deslumbramento

e palavras de poetas foram ditas

em sonetos de audácia e movimento.

 

Cravos vermelhos nos jardina de Abril,

Capitães pela Pátria e liberdade,

cravos de sangue, cravos de combate,

flores do povo na eternidade.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Memória de um dia limpo – 17 de Abril de 1969

 

Memória de um dia limpo – 17 de Abril de 1969

 

A sombra  do olvido não murchou

a glória sempre  aberta dessa dia.

 

A  saudade inventa o que é mais novo

na sombra da memória que sonhámos.

 

Foram  homens  de negro a desabar

no coração de espanto desse dia.

 

E um cerco de ferro foi lançado

num garrote de medo e crispação.

 

Os soldados da noite enegreceram

a sombra das palavras por dizer.

 

Mas houve uma palavra incendiada

dizendo-se na própria liberdade.

 

 e o sórdido milhafre ficou mudo

fechado em sua enorme solidão.

 

Um quadrado de raiva fez-se vento

e  os muros começaram a cair.

                                                           (17 de Abril de 2024)

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Um teimoso aleijão?

 Escrevi no meu FB em julho de 2019:

Num Estado de direito, respeitá-lo é um dever dos cidadãos que, em última análise, também os protege. Mas todo o edifício democrático se desmoronará, se antes de todos os juízes e os magistrados do Ministério Público não o respeitarem também escrupulosamente, em todas as circunstâncias. E que ninguém esqueça que a Constituição é a única fonte da legitimidade e do poder dos Tribunais que por força dela aplicam a justiça em nome do povo, por sua delegação; mas nunca em nome das corporações profissionais que os integram ou em sua representação.

Ou julgarão os integrantes das duas magistraturas que o simples ruminar lento dos manuais jurídicos, ao longo de um punhado de anos, os tornará santos e infalíveis, dispensando-os de qualquer controle ou escrutínio por parte de quem seja direta ou indiretamente escolhido por votos populares?