O Dia Claro
(17
de Abril de 1969)
- fragmentos de memória poética
1.
Acendeu-se este dia de manhã
na alameda da memória,
sem melancolia, sem saudade.
Apenas liberdade,
respiração sem tempo
e um cravo vermelho de audácia
na aventura.
Na cidade há um vago perfume
de guitarras em fogo.
O Mondego recorda-se das serras e do mar
e viaja por nós, colhendo-nos, dizendo-nos.
2.
Colho a pureza inteira deste dia
nas lentas alamedas da memória.
Acende-se no tempo uma saudade,
firme, calorosa, doce, intensa.
Respira-se nas ruas, fogo lento,
uma difusa luz de encantamento
e os dedos inquietos dos estudantes
tecem as lendas do deslumbramento.
Estavam diante de nós os muros altos
das desoladas sombras da tristeza,
o cerco sujo da soturnidade,
o violento
punhal da desgraça.
Mas a manhã abriu-nos libertando
os
sonhos que acordaram loucamente
sedentos de alegria e liberdade.
Rui Namorado
(17.04.2023)
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