segunda-feira, 25 de abril de 2022

Homenagem ao 25 de Abril

 


Capitães de Abril

               [1974/2022]

 

Capitães de um futuro incendiado

esculpiram num só dia o coração

das largas avenidas que hão de vir

 

O povo semeou-se pelas ruas

gritando em vermelho um cravo imenso

com asas que voaram pensamento

 

Em todo o horizonte ficou escrito

um sonho que perdeu o seu limite

  pétala de luz   deslumbramento

 

Capitães inventados em Abril

o povo atravessou-os como um rio

com a paixão mais justa e vertical

 

        [Rui Namorado – 25 de Abril de 2022]

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Ganhámos a taça!

 Em 2012, no dia em que a Académica ganhou a Taça pela segunda vez, escrevi o poema que abaixo reproduzo.



 Difundi-o então no meu blog  O Grande Zoo. No final de 2021, publiquei na Editora Lápis de Memórias, o meu livro de poemas mais recente. "A cidade do Tempo" é uma ressonância poética de Coimbra. Nele incluí o poema que hoje transcrevo.

Hoje, que a Académica atravessa uma grande tempestade de infortúnio é indispensável uma verdadeira respiração do futuro. Com verdadeira grandeza; com imaginação e ousadia.

_______________________ 

Ganhámos a taça!

          -em 2012

O jogo começou há longos anos,

quando ganhámos a primeira vez.

Em maio de mil novecentos e sessenta e nove,

julgou-se que tínhamos perdido.

Cinco anos depois viu-se que não,

porque somos de um outro campeonato.

Foi talvez, por isso, que ganhámos

neste ano já de um outro século,

como se tudo tivesse começado.

 

E, no entanto, o jogo continua.

Há sempre um novo jogo a começar:

entram em campo todas as memórias.

Mas também a saudade e a alegria.

As capas são os ventos que não param.

Os ventos que são anos e são  vida.

Há golos para todas as  balizas.

O Bentes virá sempre pela esquerda.

No último minuto, o Artur Jorge

Há de marcar o golo de uma vida.

Ia ser golo já sem remissão,

mas o Capela  voou mais que o possível

e a bola não entrou.

E hoje, quando a festa começou,

já o leão rugia rudemente;  

a bola insidiosa veio da esquerda,

procurou a cabeça do Marinho

e o golpe foi desferido e foi mortal. .

 

Vamos entrar em campo novamente,

sabendo que a Briosa a entrar em campo,

é sempre muito mais do que ali está.

Cada golo é sempre  mais que um golo:

milhares em todo o mundo vão marcá-lo.

Cada vitória é mais que uma vitória:

milhares em todo o mundo vão erguer-se,

num gesto de alegria.

E quando os onze perdem nunca perdem,

porque a Académica ganha moralmente.

E se, apesar de tudo, ainda perderem,

os onze sempre sabem que jamais 

irão perder sozinhos.

O sonho estará sempre ao lado deles

e há sempre um outro jogo para ganhar.

 

Ganhámos esta taça.

Na praça da saudade estão connosco

os que partiram antes de a ganhar.

Vai haver nas ruas de Coimbra

um fraterno Mondego de pessoas,

um clamor de alegrias.

E se nas largas ruas da vitória

se abrir alguma porta de silêncio,

não estranhem,

são aqueles que partiram,

fazendo recordar a sua ausência.

 

O que hoje entrou em campo foi a lenda

e o mito de uma eterna juventude.

Briosa é nome de uma caravela,

mas o vento que a leva só é vento

de quem saiba sonhar sem desistir.

 

Por isso, se percebe com clareza

que nós somos de um outro campeonato.

 

domingo, 17 de abril de 2022

 


 

LOUVOR AO 17 DE ABRIL

[1969/2022]

 

A pérola do tempo descansou

na guitarra  longínq1ua da saudade,

deixando que um só dia incendiasse

o sagrado sabor da liberdade.

 

Nas mãos nuas dos versos desarmados

que colhem a chegada da alegria,

foi gravada a lenda deste dia

respirou-se no vento a tempestade.

 

Um gume de revolta atravessou

o perfume da nossa primavera

e a verdade ficou no meio de nós,

colhendo-se inteira até ao fim.

 

Capas negras dos sonhos acordados

foram sangue no próprio coração,

dizendo-nos por dentro de quem somos

com as palavras livres e despertas.

 

Caminhámos por todos os lugares,

navegando sempre além do fim,

fomos cidade,  amor  e sedução,

voz súbita de todos os poetas.

 

Quando os corvos do medo nos cercaram

não colhemos a flor do desespero,

erguemo-nos na nossa condição

e lutámos

             [ 17 de Abril de 2022]                                                                                                                                                                   

sexta-feira, 8 de abril de 2022