quinta-feira, 21 de março de 2019

Dia Mundial da Poesia - 2 poemas de Carlos de Oliveira


DOIS POEMAS DE CARLOS DE OLIVEIRA


Participando na celebração do  Dia Mundial da Poesia , evoco Carlos de Oliveira (1921/81), através de dois dos seus seus poemas. E assim homenageio também todos os poetas do "Novo Cancioneiro", bem como toda a resistência poética  ao fascismo português.



Acusam-me de mágoa e desalento
*     
Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.

Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.

Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.

A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança. 


Cantiga do Ódio

O amor de guardar ódios
agrada ao meu coração,
se o ódio guardar o amor
de servir a servidão.
Há-de sentir o meu ódio
quem o meu ódio mereça:
ó vida, cega-me os olhos
se não cumprir a promessa.
E venha a morte depois
fria como a luz dos astros:
que nos importa morrer
se não morrermos de rastros? 


[ in "Mãe Pobre"]

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