Regresso a 17 de Abril de 1969
Como princesa triste está deitada
Coimbra do eterno encantamento
Lembrada desse dia eternamente
Irmã antiga do que mais quisemos.
O fio da memória traz ainda
A luz aberta e limpa desse dia.
Uma luz crua, imensa , sem
fronteiras,
Como se o tempo fosse hoje e não
passasse.
Lenta a saudade paira sobre nós
Brisa de um tempo que não tem
limites.
Há nomes que nos rasgam por
partirem
Quando era ainda o tempo de ficarem.
Vamos sendo esculpidos docemente
Por dias novos sempre já passados,
Quando ágeis se escapam entre os
dedos
Como se antes de serem, regressassem.
Voltamos por todos os caminhos
Ao tempo que fundámos nesse dia.
Cada hora nos lembra do mistério
De termos sido o vento da
alegria.
E agora que os anos se cansaram
Da limpidez sem margens do futuro
E parecem perdidos da aventura
Esquecidos do clamor e da viagem,
Voltamos às planícies que
inventámos
Para sermos a semente, tempestade,
Na linha vertical que cultivámos
Subindo desmedida em todos nós.
Escrevemos a memória no futuro,
Colhemos a saudade sem temor,
Onde estivermos está o mês de
Abril
A cólera dos sonhos, o amor.
Subimos a garganta dos clamores
No gume das palavras mais
cortantes,
Queremos a voz exacta da justiça
O som de respirar a liberdade.
[ Rui Namorado -17/04/2017]