quinta-feira, 1 de novembro de 2012

INSINUAÇÕES POÉTICAS -1



Recordando instantes  poéticos de vários tempos e da minha autoria:

coisas velhas e mortas nos possuem
não queremos ser
apenas folhas verdes
dum velho carvalho que apodrece

                       (in  Maio Ausente -1970)

habituados ao calendário nostálgico
ao relógio de areia que nos mede
esquecemos
muitas vezes esquecemos
possível   movimento   necessário

                      (in Maio Ausente -1970)

nem ao menos um cravo
vermelho
na lapela deste dia
silencioso

                        (in Maio Ausente -1970)

um fruto de ódio apodrece estas ruas
crispado no centro das cidades

um cerco nocturno 
um massacre sem história

um porto que se perde
muito ao longe

uma aventura esquecida
devassada   distante

                             (in  Debruçado no Vento -1983)

Oh secreta amêndoa da esperança

imprecisa ainda,
já subtil,
sempre duvidosa,

tu és o coração da tempestade
 
                                (in Debruçado no Vento -1983)

 OS  ANOS  E  O  LUGAR
 
 Somos nós a raiz deste lugar,
a íntima saudade do que foi,
a doce nostalgia do futuro.

Aqui morreu o vento de Castela,
seu manto de soberba
e sua espada.

O verdadeiro mar foi inventado,
nestas praias de esperança
e de partida.

E o rosto da Europa foi inteiro,
quando a olhámos primeiro.

                      (in  Sete  Caminhos -1996)

O tempo que foi novo envelheceu,
Uma lua de espanto regressou,
com pétalas de medo.

Nas mais largas alamedas,
pequenos focos de trevas reinventam a noite.

Vencidos trovadores
desfiam pranto.

Velhas palavras sulcam os poetas
e os versos inquietos já hesitam,
entre o sonho e a fúria.

                         (in  Nenhum Lugar e Sempre -2003)

                     [Poemas de Rui  Namorado]

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