segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Aprendizes de feiticeiro ?


Transcrevo de seguida um pequeno texto da revista brasileira CartaCapital, da responsabilidade da sua redacção, intitulado "Berlusconismo ou fascismo?", datado do passado dia 15.


"A revista Newsweek, outrora considerada progressista, afirma que nos primeiros cem dias de governo Silvio Berlusconi saiu-se bem. O semanário católico italiano, Famiglia Cristiana, de larga influência, divulga um relatório da revista francesa Esprit, e diz em editorial “esperamos que não volte um fascismo de roupa nova”. Que fez Berlusconi em cem dias? Segundo a Newsweek, tirou o lixo das ruas de Nápoles, botou o Exército a patrulhar as cidades juntamente com os carabinieri, mandou recolher as impressões digitais das crianças rom, combateu os acampamentos nômades, criou novos entraves à entrada de imigrantes no país de grandes imigrações. Ah, sim, cobriu com piedoso véu o seio da opulenta senhora que Gian Battista Tiepolo pintou no século XVII na célebre tela A Verdade Desvendada pelo Tempo. O quadro domina, indiferente, uma das paredes do Palazzo Chigi, sede da presidência do Conselho. Trata-se, felizmente, de uma cópia. Tudo isso encanta o semanário nova-iorquino, bem como, supõe-se, as leis aprovadas pelo Parlamento, graças à ditadura da maioria, para acabar com as inúmeras pendengas judiciárias que envolvem o homem mais rico da Itália. Já Famiglia Cristiana rema na rota oposta, e não se deixa seduzir pelo véu estendido sobre o seio da Verdade. Pelo contrário, encara as medidas berlusconianas como demonstração de um risco possível, se não provável. Talvez as duas revistas extrapolem e exagerem. Diz, porém, Umberto Eco: “Não posso dizer que o clima do início dos anos 40 tenha voltado, mas começo a aspirar seu perfume”. E o Prêmio Nobel Dario Fo: “Como o fascismo, o berlusconismo é mal insidioso, difícil de estirpar”. E Eugenio Scalfari, tido como o maior jornalista italiano vivo: “Não será fascismo, mas é o preocupante começo de uma ditadura". "


Saúde-se a preocupação da "Famiglia Cristiana", em contraste com a bonomia com que a Igreja de Roma sempre encarou Berlusconi. Bonomia de que o católico Prodi nunca beneficiou, quando chefiou, por duas vezes, governos italianos de esquerda.

Será a proximidade entre berlusconianismo e fascismo um excesso de hostilidade em face do actual poder italiano ? Talvez. Mas o que pertence ao mundo dos factos é a fusão do partido de Berlusconi com os ex-fascistas italianos liderados por Fini. Uma fusão que suporta agora um Governo.


Será que a Itália e a Igreja de Roma ainda não conseguiram esquecer a "guerra fria"? Se o bruxulear da "Famiglia Cristiana" for um pequeno indício dessa futura grande notícia, há razões para nos congratularmos.




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