Mais tarde, poderei vir a fazer um comentário político
global aos resultados das recentes eleições autárquicas. Deixemos assentar a
poeira. Hoje, vou-me limitar a um comentário muito circunscrito, sem pretensões
que transcendam o seu conteúdo visível. Vou falar muito genericamente da campanha
do BE e dos seus resultados.
Se olharmos para o seu conteúdo, podemos dizer que as suas
propostas estiveram em linha com o essencial da sua linha política. Mas esse
conteúdo foi expresso no quadro de uma
estratégia que visou dois objectivos principais: aumentar o número de vereadores
eleitos pelo BE e impedir maiorias absolutas do PS nos casos em que esse perigo
(na perspectiva do BE) existisse.
O primeiro objectivo falhou, já que o BE perdeu mais de
metade das cerca de duas dezenas de vereadores que tinha.
O segundo, como o caso de Lisboa documenta, foi mais do que
atingido: o PS mais do que não ter chegado à maioria absoluta não chegou sequer
a uma maioria; perdeu as eleições. Tornou-se impossível assim ao BE obrigar o
PS a comportar-se de acordo com as suas virtuosas indicações. Pelo que nos
podemos interrogar sobre se este resultado é o pleno cumprimento do objectivo do
BE ou a sua absoluta frustração.
Podemos andar às voltas de tudo isto com a imaginação
própria das preferências de cada um de nós. Mas dificilmente podemos deixar de
constatar que, se é certo que se pode envolver em subtis justificações a relação
entre os resultados pretendidos e os conseguidos pelo BE, parece claro que com
o modo como essa estratégia se concretizou a direita lucrou fartamente.
Os entusiasmos de Catarina tiverem pois alguns frutos, mas
certamente amargos. Os vereadores salvadores com que ambicionava polvilhar as
governações do PS de vários municípios não vão poder agir; ou porque não chegam
a existir ou porque é a direita que está no poder.
Faço a justiça ao BE ao imaginar que estes frutos lhe são
amargos.