BRANQUEAMENTO
DOS NEOFASCISTAS
Há dias mencionei um
episódio de objetivo branqueamento do Chega, quando um órgão de comunicação da
direita radical, para fazer contraponto ao PS, inventou uma categoria política
estranha a “direita junta”, onde meteu o PSD, o CDS, a IL e o Chega. Categoria
estranha porque mete no mesmo saco, como se isso fosse natural, três partidos democráticos e um partido neofascista.
Posteriormente, o JN (o jornal que leio mais frequentemente) cometeu uma proeza idêntica, quando, num comentário a uma sondagem que difundiu, resolveu repartir a parte direita do espetro político em duas categorias , a “velha direita” e a “nova direita”. Na primeira, colocou o PSD e o CDS, na segunda, a IL e o Chega. Mencionou a “velha” a descer e a “nova” a subir, como se fossem fungíveis, sublinhando que essa subida era obra do último.
Através dessas categorias neutras anulou-se a
identidade política de todos os abrangidos e banalizou-se por completo a
aliança entre a direita democrática e os neofascistas, como se a diferença
entre elas fosse uma mera questão programática.
Qualquer branqueamento
político da natureza neofascista do Chega
é um auxílio objetivo a esse partido, como aliás se pode ver se
atentarmos no modo como ele reivindica desde já diversos ministérios num futuro
governo que apoie. E um arranhão na democracia.
Aliás, o rosto mais
mediático do Chega, embora conteste essa qualificação no plano formal, absorve-lhe por
completo o conteúdo. E no decurso dos debates presidenciais ouvi-o por duas
vezes rejeitar em bloco as políticas seguidas nos últimos 46 anos. O que significa
deixar de fora da sua rejeição o anterior regime fascista e meter dentro de um
mesmo saco repudiado todos os governos do PSD. Apesar de ele ser dirigente do
PSD quando era governo e seu candidato à Câmara de Loures em 2017. E apesar de
querer ser ministro de um futuro governo do PSD. Radical contra o 25 de abril, manso se for essa a condição para ser ministro. Como se pode deduzir da rejeição desses 46 anos de democracia estamos perante um Chega de democracia, regresse o salazarismo.Ou haverá outro sentido a atribuir a essa posição ?
Acho estranho que
os que se lhe opuseram nesses debates
tenham dado atenção a aspectos parcelares ainda que relevantes e tenham esquecido
essa implícita confissão de simpatia
pelo fascismo salazarista.
Em sentido idêntico, tenho ouvido referir,
como se isso fosse uma atenuante ao seu neofascismo , o facto de expressamente defender um neoliberalismo económico radical.
Ora, isso é a fiel reprodução do que foi a governação de Pinochet no Chile, o que é afinal um outro vergonhosos parentesco. Espanta-me aliás que os seus adversários insistam na denúncia, ainda que justa do seu ódio aos ciganos, em especial, e aos excluídos, em geral; e deixem passar em claro a evidência de que o seu verdadeiro modelo de governação é o Chile de Pinochet.
Os branqueadores do neofascismo podem discutir se AV e o
seu Chega são fascistas, salazaristas ou pinochetistas, mas nunca conseguirão
demonstrar que ele nada tem a ver com nenhuma dessas posições políticas, se alegarem que elas diferem entre si.
Os aleijões sociais
inerentes ao capitalismo e a desistência de os superar são um terreno fértil
para fenómenos de desespero e irracionalidade colectivos, mas não são a causa
única para a emergência de respostas politicas neofascistas. Não são fator um
único, precisando de protagonistas e de cumplicidades No caso português, sem menosprezar o auto encurralamento que as direitas
democráticas estão a cometer contra si próprias, a grande comunicação social
tem contribuído muito para a banalização do neofascismos mesmo que se desdobre
em tomadas de posição que digam o contrário.
Os dois casos acima mencionados são exemplos disso.