sábado, 25 de abril de 2020

Mensagem de Abril ao Povo






Mensagem de Abril ao Povo


Quando acordardes de novo e inventares
a  glória suprema de seres povo,

quando o sonho rompendo te rasgar,
respirando o teu corpo até ao fim,

quando a terra  num golpe te encontrar
como raiz de todo o teu lugar,

quando a sombra da noite naufragar
colhida pela luz de seres do mar,

nascerás povo como sendo abril
e correrá em  ti o rio da História.

                  [ Rui Namorado – 23/04/2020]

terça-feira, 21 de abril de 2020

MATILHA MEDIÁTICA, PANDEMIA E HONESTIDADE INTELECTUAL





MATILHA MEDIÁTICA, 
PANDEMIA  E
 HONESTIDADE INTELECTUAL


1. Os jornalistas e os comentadores de referência comportam-se, em regra, como uma verdadeira matilha  mediática que vai selecionando alvos cujo potencial de captação de público vai explorando até ao tutano. As exceções merecem a nossa consideração e o nosso respeito. Mas não deixam de ser exceções.

São especialmente irritados por tudo o que tenha um cheiro a esquerda um pouco mais intenso, como se reagissem a manjares especialmente irritantes a que não sabem resistir. Escritos  favoráveis às esquerdas existem, mas são raros. E se não considerássemos as prestações mediáticas próximas do Bloco de Esquerda maior seria a  sua raridade. E se procurarmos apenas  os que vejam com bons olhos o atual governo ou  o Partido Socialista, será como procurar agulha em palheiro. Especialmente, se descontarmos as vozes que, com apreciável frequência, exprimem comichões direitistas no seio do próprio Partido Socialista.


2. Este contexto pode ajudar-nos a compreender um episódio que, pela minha parte, atingiu  ontem o seu desenlace. Na verdade, quiçá por um acaso feliz, um jornalista televisivo resolveu finalmente pedir a uma perita epidemiologista da Direção Geral da Saúde para o esclarecer quanto ao momentoso caso do chamado pico da pandemia no nosso país.

 Sabendo o referido perito realmente do que estava a falar, explicou com clareza em duas penadas o que estava em causa. Ficámos a saber por que razão a Ministra da Saúde tinha dito que os especialistas na matéria haviam considerado como provável que  o referido pico tivesse ocorrido ainda em março.

Na verdade, como explicou a epidemiologista da DGS, o critério a que atribuem relevância científica é o que se baseia no número de casos confirmados por data de início de sintomas ou notificações. Aliás, como expressamente então informou  a especialista, o gráfico  correspondente tem sido publicado, desde o início da difusão de notas informativas da DGS sobre a pandemia, entre os gráficos divulgados diariamente pela DGS.

Por mim, verifiquei assim que se tratava de um gráfico de  cuja relevância eu não me tinha apercebido, cuja utilidade me tinha escapado . A mim e todos os parlapatões de extração  vária que enxamearam o espaço mediático com ataques à Ministra da Saúde e à DGS. Ataques  que agora se comprova serem apenas fruto de uma profunda ignorância  e de um arreigado fanatismo antigovernamental.

Agora, depois da explicação, é óbvia a razão que levou a Ministra da Saúde a dizer o que disse. O gráfico em causa mostra claramente que foi o período entre  26 e 29 de março aquele em que ocorreu o pico da epidemia entre nós quanto à trajetória  da eclosão de novas contaminações.

Tal como eu apenas cairia no ridículo se imputasse  à DGS a minha falha de compreensão quanto a essa problemática, também o é a imputação de culpa que lhe fizeram os mencionados parlapatões mediáticos. Com a agravante de eles  terem irrompido no espaço público, revestidos de uma alegação de competências próprias relevantes, com base nas quais agredirem  desregradamente, com diatribes e  censuras, as autoridades públicas da saúde.

Mas afinal , esses epidemiologistas, esses médicos de saúde pública, esses matemáticos, esses especialistas em estatística, esses sociólogos (e até alguns protagonistas políticos mais dados a sabichão), que vieram a público censurar a Ministra, não sabiam do que estavam a falar. No fundo, o seu fanatismo antigovernamental reduziu-os a meros autores encartados de patetices especializadas que não tiveram pudor em usar como armas de arremesso de muito baixa chicana política. Baixa, mas principalmente estúpida.

De facto, invocaram evidências que apenas traduziam a sua própria ignorância, falaram com base em pressupostos  errados, insinuaram uma intenção propositada de se enganar o povo, alegaram  incompetência comunicacional, apenas por não perceberem o que lhes havia sido dito.

Houve mesmo um matemático, alegadamente de alto coturno, que num jornal de Coimbra desfez as autoridades sanitárias e os poderes públicos com a  implacável denúncia do que teria sido um falso pico, que elas teriam propositada e imperdoavelmente difundido para iludir o povo. Note-se que ele não veio criticar o método acima mencionado, propondo um caminho mais adequado, o  que  seria ótimo. Veio, isso sim, evidenciar que, abusando dos seus galões de matemático público, apenas nos tentou  esmagar, a nós pobres  mortais, com o seu verbo sábio e pomposo. Tê-lo-á sido, mas para mim, que na altura o li  com total abertura de espírito, apenas se comportou agora por escrito como um vulgar idiota. Alguém que se meteu a criticar posições de terceiros que afinal nem compreendera.

Só nos resta fazer votos para que por palavras, números ou desenhos, os génios, geniozinhos e geniozões, que nos derem a suprema honra de os podermos ler , não se esqueçam nunca de temperar os seus iluminados artefactos com uma pitada, uma modesta pitada de honestidade intelectual.

domingo, 19 de abril de 2020

O dente do 24 de abril


Há cães que logo que conseguem um dente mordem no 25 de abril.

Para uma metafísica dos almoços



Para uma metafísica dos almoços.

Uma das frases habituais no discurso, mentalmente entaramelado e pesporrente, dos pavões gestioneses de cabeça oca é a célebre : “Não há almoços grátis”.

Se assim fosse, como estariam a decorrer as coisas nesta pandemia? Melhor? Não me parece.
...
Na verdade, os almoços que aconchegam verdadeiramente o corpo e a alma, ressalvada a sempre aconselhável prudência gastronómica, são os que nos são dados a comer sem nos ser exigido qualquer preço. Têm o sabor da amizade e da solidariedade, que são afinal as únicas contrapartidas que têm implícitas. Excelentes.

A propósito desta reflexão ética, a alguns de nós, que na luminosa juventude aprenderam vida nos escalavrados bancos das Repúblicas de Coimbra , vem com naturalidade à memória o saudoso instituto da “lebre”. “A lebre” essa providencial hipótese de fuga à penúria gastronómica que por vezes assombrava as repúblicas no final do mês.

Ó Pavões Gestioneses , verdadeiramente, os verdadeiros almoços são sempre grátis!!!

sexta-feira, 17 de abril de 2020

EVOCAÇÃO DO 17 DE ABRIL DE 1969



EVOCAÇÃO  DO 17 DE ABRIL DE 1969

Abro as portas do tempo devagar
colhendo mil memórias de um só dia.

No espelho destes anos que passaram
sinto a sombra dos sonhos naufragados.

Há hoje na cidade nova peste.
Cerca os dedos da vida de um bolor
que nos queima e nos perde sem parar.

Não estava escrito então este silêncio
na boca das revoltas que inventámos.

Não era o não ser desta agonia
que apunhalava a negro a cor das ruas.

Por isso, esta guitarra que se esvai
desmoronada em peste  rua a rua
colhe em silêncio toda a luz do dia.

Escrevamos pois de novo outro lugar
onde caiba em pleno o mês de abril.

                        Rui  Namorado
                   [ Coimbra, 16 de abril de 2020]

segunda-feira, 13 de abril de 2020

EDGAR MORIN E O FUTURO





EDGAR  MORIN  E  O  FUTURO

O universitário italiano Nuccio Ordine entrevistou sobre a crise atual, para o jornal italiano CORRIERE DE LA SERA, o pensador francês EDGAR MORIN. Esta conversa foi difundida no passado dia 11 de abril pelo jornal espanhol EL PAÍS.

Vamos reproduzi-la de seguida em língua espanhola.
__________
Como nos diz Edgar Morin: “Vivimos en un mercado planetario que no ha sabido suscitar fraternidad entre los pueblos”
El filósofo francés reflexiona a sus 98 años sobre los efectos de la epidemia de coronavirus y alerta contra los peligros del darwinismo social y la destrucción del tejido público en sanidad y educación
La unificación técnico-económica del mundo que trajo el capitalismo agresivo en los años noventa ha generado una enorme paradoja que la emergencia del coronavirus ha hecho ahora visible para todos: esta interdependencia entre los países, en lugar de favorecer un real progreso en la conciencia y en la comprensión de los pueblos, ha desatado formas de egoísmo y de ultranacionalismo. El virus ha desenmascarado esta ausencia de una auténtica conciencia planetaria de la humanidad”. Edgar Morin habla con su habitual pasión por Skype. Él, como millones de europeos, se encuentra confinado en su casa del sur de Francia, en Montpellier, con su esposa.
Está considerado como uno de los filósofos contemporáneos más brillantes; a los 98 años (el 8 de julio cumplirá 99) Morin lee, escribe, escucha música y mantiene contacto con amigos y parientes. Sus ganas de vivir demuestran con fuerza el drama de un azote que está aniquilando a miles de ancianos y de enfermos con patologías previas. “Sé bien —dice con tono irónico— que podría ser la víctima por excelencia del coronavirus. A mi edad, sin embargo, la muerte está siempre al acecho. Por lo tanto es mejor pensar en la vida y reflexionar sobre lo que pasa”.
_______________________________________

Pregunta. La mundialización de la que habla ha creado un gran mercado global que, a través de la tecnología más avanzada, ha reducido considerablemente las distancias entre continentes. Pero esta reducción de las distancias no ha favorecido un diálogo entre los pueblos. Al contrario, ha fomentado el relanzamiento del cierre identitario en sí mismo, alimentando un peligroso soberanismo.

Respuesta. Vivimos en un gran mercado planetario que no ha sabido suscitar sentimientos de fraternidad entre los países. Ha creado, de hecho, un miedo generalizado al futuro. Y la pandemia del coronavirus ha iluminado esta contradicción haciéndola aún más evidente. Me hace pensar en la gran crisis económica de los años treinta, en la que varios países europeos, Alemania e Italia sobre todo, abrazaron el ultranacionalismo. Y, pese a que falte la voluntad hegemónica de los nazis, hoy me parece indiscutible este cierre en sí mismos. El desarrollo económico-capitalístico, entonces, ha desatado los grandes problemas que afectan nuestro planeta: el deterioro de la biosfera, la crisis general de la democracia, el aumento de las desigualdades y de las injusticias, la proliferación de los armamentos, los nuevos autoritarismos demagógicos (con Estados Unidos y Brasil a la cabeza). Por eso, hoy es necesario favorecer la construcción de una conciencia planetaria bajo su base humanitaria: incentivar la cooperación entre los países con el objetivo principal de hacer crecer los sentimientos de solidaridad y fraternidad entre los pueblos.
La experiencia nos enseña que todas las graves crisis pueden incrementar fenómenos de cierre y de angustia: la caza al infractor o la necesidad de un chivo expiatorio, a menudo identificado con el extranjero o el migrante

P. Intentemos analizar esta contradicción en una escala reducida, tomando en consideración el microcosmos de las relaciones personales. La incursión del virus ha puesto en crisis la ideología de fondo que ha dominado las campañas electorales en estos últimos años: eslóganes como “America First”, “La France d’abord”, “Prima gli italiani”, “Brasil acima du tudo han ofrecido una imagen insular de la humanidad, en la que cada invididuo parecer ser una isla separada de las otras (utilizando la bonita metáfora de una meditación de John Donne). En cambio, la pandemia ha mostrado que la humanidad es un único continente y que los seres humanos están ligados profundamente los unos a los otros. Nunca como en este momento de aislamiento (lejos de los afectos, de los amigos, de la vida comunitaria) estamos tomando conciencia de la necesidad del otro. “Yo me quedo en casa” significa no solo protegernos a nosotros mismos sino también a los otros individuos con los que formamos nuestra comunidad.

R. Así es. La emergencia del virus y las medidas que nos obligan a quedarnos en casa han terminado por estimular nuestro sentimiento de fraternidad. En Francia, por ejemplo, cada noche tenemos una cita en nuestras ventanas para aplaudir a nuestro médicos y al personal hospitalario que, en primera línea, asiste a los enfermos. Me he emocionado, la semana pasada, cuando he visto en televisión, en Nápoles y en otras ciudades italianas, a las personas asomarse a los balcones para cantar juntas el himno nacional o para bailar al ritmo de las canciones populares. Pero está también la otra cara de la moneda. La experiencia nos enseña que todas las graves crisis pueden incrementar fenómenos de cierre y de angustia: la caza al infractor o la de necesidad un chivo expiatorio, a menudo identificado con el extranjero o el migrante. Las crisis pueden favorecer la imaginación creativa (como ocurrió con el New Deal) o provocar regresión.

P. ¿Alude también a la Europa que frente a la emergencia sanitaria ha revelado, una vez más, su incapacidad de programar estrategias comunes y solidarias?

R. Por supuesto. La pseudo Europa de los banqueros y de los tecnócratas ha masacrado en estas décadas los auténticos ideales europeos, cancelando cada impulso hacia la construcción de una conciencia unitaria. Cada país está gestionando la pandemia de manera independiente, sin una verdadera coordinación. Esperemos que de esta crisis pueda resurgir un espíritu comunitario capaz de superar los errores del pasado: desde la gestión de la emergencia de los migrantes hasta el predominio de las razones financieras sobre las humanas, desde la ausencia de una política internacional europea a la incapacidad de legislar en la materia fiscal.

P. ¿Cual ha sido su reacción frente al primer discurso de Boris Johnson, al despiadado cinismo con el que ha invitado a los ciudadanos británicos a prepararse a los miles de muertos que el coronavirus provocaría y a aceptar los principios del darwinismo social (la supresión de los más débiles)?

R. Un ejemplo claro de cómo la razón económica es más importante y más fuerte que la humanitaria: la ganancia vale mucho más que las ingentes pérdidas de seres humanos que la epidemia puede infligir. Al fin y al cabo, el sacrificio de los más frágiles (de las personas ancianas y de los enfermos) es funcional a una lógica de la selección natural. Como ocurre en el mundo del mercado, el que no aguanta la competencia es destinado a sucumbir. Crear una sociedad auténticamente humana significa oponerse a toda costa a este darwinismo social.

P. El presidente Macron ha utilizado la metáfora de la guerra para hablar de la pandemia. ¿Cuáles son las afinidades y las diferencias entre un verdadero conflicto armado y lo que estamos viviendo?

R. Yo, que he vivido la guerra, conozco bien los mecanismos. Primero, me parece evidente una diversidad: en guerra, las medidas de confinamiento y toque de queda son impuestas por el enemigo; ahora en cambio es el Estado el que lo impone contra el enemigo. La segunda reflexión tiene que ver con la naturaleza del adversario: en una guerra es visible, ahora es invisible. También para aquellos como yo, que han participado en la resistencia, la analogía podría funcionar igualmente: para los partisanos la Gestapo era como un virus, porque se metia en cualquier lado, porque todo lo que estaba alrededor de nosotros habría podido tener oído para informar y denunciar. Ahora no sé si este periodo de confinamiento durará el tiempo suficiente para provocar restricciones que podrían recordar el racionamiento de la comida y los comercios ocultos del mercado negro. Pienso, y espero, que no. De todos modos, no creo que utilizar la metáfora de la guerra pueda ser más útil para comprender esta resistencia a la epidemia.

P. A propósito de la solidaridad humana: ¿no le parece que los científicos en este momento están promocionando una colaboración internacional para buscar la derrota del virus? ¿La llegada de médicos chinos y cubanos en el norte de Italia no es una señal de esperanza?

R. Esto es indiscutiblemente positivo. La red planetaria de investigadores testifica un esfuerzo hacia un bien común universal que cruza las fronteras nacionales, los idiomas, el color de la piel. Pero no se deben infravalorar los fenómenos de cohesión nacional: estar, lo recordaba antes, alrededor de los operadores sanitarios que trabajan en los hospitales. Muchos, sin embargo, son dejados fuera de estas nuevas formas de agregación solidaria: personas solas, ancianos y familias pobres no conectadas a la Red, sin contar a los que viven en la calle porque no tienen una casa. Si este régimen durara por un periodo largo, ¿cómo seguiríamos cultivando la relaciones humanas y cómo conseguiríamos tolerar las privaciones?

P. Me gustaría que abordáramos otra vez el tema de la ciencia. Después del desastre de la Segunda Guerra Mundial, las primeras relaciones entre Israel y Alemania se produjeron a través de los científicos. El año pasado, mientras visitaba el Cern de Ginebra con Fabiola Gianotti, vi alrededor de una mesa investigadores que procedían de países en conflicto entre ellos. ¿No piensa que la investigación científica de base, la que no espera ganar nada, pueda contribuir a promocionar en esta emergencia de la pandemia un espíritu de fraternidad universal?

R. Claro que sí. La ciencia puede desempeñar un papel importante, pero no decisivo. Puede activar un diálogo entre los trabajadores de diferentes países que en este momento trabajan para crear una vacuna y producir fármacos eficaces. Pero no se debe olvidar que la ciencia es siempre ambivalente. En el pasado, muchos investigadores han trabajado al servicio del poder y de la guerra. Dicho esto, yo confío mucho en esos científicos creativos y llenos de imaginación que ciertamente sabrán promocionar y defender una investigacion cientifica solida y al servicio de la humanidad.
La red planetaria de investigadores testifica un esfuerzo hacia un bien común universal que cruza las fronteras nacionales, los idiomas, el color de la piel

P. Entra las emergencias que la epidemia ha evidenciado está sobre todo la sanitaria. En algunos países europeos, los Gobiernos han debilitado progresivamente los hospitales con sustanciales recortes de recursos. La escasez de médicos, enfermeros, camas y equipamientos han mostrado una sanidad pública enferma.

R. No hay duda de que la sanidad tenga que ser pública y universal. En Europa, en las últimas décadas, hemos sido víctimas de las directivas neoliberales que han insistido en una reducción de los servicios públicos en general. Programar la gestión de los hospitales como si fueran empresas significa concebir los pacientes como mercancía incluida en un ciclo productivo. Esto es otro ejemplo de cómo una visión puramente financiera pueda producir desastres bajo el punto de vista humano y sanitario.

P. La sanidad y la educación constituyen los dos pilares de la dignidad humana (el derecho a la vida y el derecho al conocimiento) y las bases del desarrollo económico de un país. El sistema educativo también ha sufrido recortes terribles en estas décadas.

R. La sanidad y la educación, bajo este punto estoy de acuerdo con lo que ha escrito en sus libros, no pueden ser gestionados por una lógica empresarial. Los hospitales o las escuelas y las universidades no pueden generar ganancia económica (¡no deberían vender productos a los clientes que los compran!), pero deben pensar en el bienestar de los ciudadanos y en formar, como decía Montaigne, “teste ben fatte”. Se debe reencontrar el espíritu del servicio público que en estas décadas ha sido fuertemente reducido.

P. Ahora, con las escuelas y las universidades cerradas, se hace necesario recurrir a la enseñanza a distancia para mantener vivas las relaciones entre profesores y estudiantes.

R. Gracias a la tecnología se puede conseguir no romper el hilo de la comunicación. También la televisión en Francia se está organizando para ofrecer programas a los estudiantes de los institutos. Pero la cuestión, como bien sabe, es de fondo: en diferentes libros míos he puesto en evidencia los límites de nuestro sistema de enseñanza. Pienso que no se adaptó a la complejidad que vivimos desde el punto de vista personal, económico y social. Tenemos una conciencia dividida en compartimentos estancos, incapaz de ofrecer perspectivas unitarias e inadecuada para enfrentar de manera concreta los problemas del presente. Nuestros estudiantes no aprenden a medirse con los grandes desafíos existenciales, tampoco con la complejidad y la incertidumbre de una realidad en constante mutación. Me parece importante prepararse para entender las interconexiones: cómo una crisis sanitaria puede provocar una crisis económica que, a su vez, produce una crisis social y, por último, existencial.

P. Algunos decanos y algunos profesores han considerado la experiencia de la pandemia como una ocasión para relanzar la enseñanza telemática. Pienso que es necesario recordar que ninguna plataforma digital puede cambiar la vida de un alumno. ¿Así no se corre el riesgo de denigrar la importancia esencial de las clases en las aulas y del encuentro humano entre profesor y estudiante?

R. Se debe distinguir la excepcionalidad impuesta por el virus de las condiciones normales. Ahora no tenemos elección. Pero conservar el contacto humano, directo, entre profesores y alumnos es fundamental. Solo un profesor que enseña con pasión puede influir realmente en la vida de sus estudiantes. El papel de la enseñanza es sobre todo el de problematizar, a través de un método basado en preguntas y respuestas capaz de estimular el espíritu crítico y autocrítico de los alumnos. Desde la infancia, los estudiantes tienen que dejar rienda suelta a su curiosidad, cultivando la reflexión crítica. Enseñar es una misión, como la que están cumpliendo ahora los médicos: se trata, en cualquier caso, de ocuparse de vidas humanas, de personas, de futuros ciudadanos.

P. El virus ha conseguido hacer explotar también los límites de la rapidez. El confinamiento en nuestras casas nos ha ayudado a redescubrir la importancia de la lentitud para reflexionar, para entender, para cultivar los afectos.

R. Me parece indiscutible. La epidemia, con las restricciones que ha generado, nos ha obligado a realizar una saludable desaceleración. Yo mismo he notado un fuerte cambio en mi ritmo cotidiano: ya no es cronometrado y jalonado como lo era antes. Cuando dejé París para vivir en Montpellier ya noté un notable cambio en el desarrollo de mis jornadas. Ahora, con mayor conciencia, me estoy (nos estamos) reapropiando del tiempo. Bergson había entendido bien la diferencia entre el tiempo vivido (el interior) y el tiempo cronometrado (el exterior). Reconquistar el tiempo interior es un desafío político, pero también ético y existencial.

P. Precisamente ahora nos damos cuenta de que leer libros, escuchar música, admirar obras de arte es la manera mejor de cultivar nuestra humanidad.

R. Sin duda. El confinamiento está haciendo que nos demos cuenta de la importancia de la cultura. Una ocasión —a través de estos saberes que nuestra sociedad ha llamado injustamente “inútiles” porque no producen ganancias— para comprender los límites del consumismo y de la carrera sin pausa hacia el dinero y el poder. Habremos aprendido algo en estos tiempos de pandemia si sabemos redescubrir y cultivar los auténticos valores de la vida: el amor, la amistad, la fraternidad, la solidaridad. Valores esenciales que conocemos desde siempre y que desde siempre, desafortunadamente, terminamos por olvidar.

 [Transcrito de uma página virtual do jornal espanhol El Pais, que havia sido traduzida do © Corriere della Sera]