PARA ALÉM DO UMBIGO DA
EDUCAÇÃO
O perverso furacão Bolsonaro
assola o Brasil. Entre as devastações mais graves, a que atinge a educação dos
brasileiros. Da autoria de Ana Luiza Basilio, foi publicado um texto sobre educação, na página virtual da prestigiada revista de
grande circulação CartaCapital.
No essencial, apela-se para
que o tosco poder atual olhe para alguns exemplos positivos dados por outros
países através do mundo. São mencionados cinco exemplos: Finlândia, Canadá,
Alemanha, Estónia e Portugal.
Para além de alguns detalhes
discutíveis,o texto mostra em si próprio que
Portugal é visto como projetando no campo da educação uma imagem global
suficientemente positiva, para suportar a sua invocação como exemplo.
E,no entanto, na última
década temos sido tolhidos por um grande desperdício de energias, desviadas para
aspetos menores da problemática educativa ou para maneiras tóxicas de abordar
aspetos relevantes dessa problemática. É tempo de arripiar caminho.
Se partirmos do
essencial,provavelmente, criaremos condições para superar sem
dificuldades de maior algumas das
crispações que têm grassado entre nós nos
últimos anos, sem benefício para ninguém e com prejuízo para o país.
Olhemo-nos tal como somos
visto no texto seguinte e aprendamos a aprender com os outros países dados como
exemplo ao nosso lado. Não para os imitarmos acefalamente mas para tirarmos deles as lições que nos possam dar.
Eis o texto que mencionei.
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países que apostam, e muito, na educação
(fica
a dica, Bolsonaro)
Conheça a trajetória de nações que valorizam os
professores e são exemplos de modelos educacionais do mundo
Se é difícil
encontrar paralelo no mundo com o que se passa no Brasil de maneira geral, é
quase impossível detectar uma experiência semelhante quando se trata de
educação. Na maioria dos países, ricos ou pobres, ao Norte ou ao Sul, a
compreensão do ensino como esteio da civilização e da prosperidade é
disseminada e defendida pela sociedade. Ninguém se atreveria a cortar o
orçamento das universidades sob a alegação de “balbúrdia”, interromper o
pagamento de bolsistas de mestrado ou doutorado sem critérios claros ou
chantagear os eleitores com a possibilidade de secar as torneiras caso uma
reforma da Previdência não seja aprovada. O mais provável destino de um governo
que assim se comportasse seria uma breve temporada no poder – e o ostracismo
político.
Na Europa, berço do Estado de Bem-Estar Social, o
ensino, do maternal à universidade, é público e gratuito, salvo raras exceções,
e não há líder populista de direita capaz de convencer a população de que o
sistema prejudica a economia e estimula o privilégio. Ao contrário. A educação
universal e às expensas do Estado é vista como uma condição básica para
garantir a igualdade e o desenvolvimento. Nas nações em que escolas públicas e
privadas convivem, o ensino pago é preenchido por uma minoria – ou filhos de
milionários ou estudantes com dificuldades de adaptação.
Não bastasse, enquanto o governo Bolsonaro escolhe a
educação e a ciência como os inimigos número 1, nações que há muito tempo
atingiram a universalização do ensino preparam-se para a nova etapa do
capitalismo: a revolução industrial e tecnológica chamada de 4.0, tsunami que
destruirá milhares de profissões e milhões de empregos ao redor do mundo nas
próximas décadas. Corrida para a qual, obviamente, o Brasil se torna cada vez
menos competitivo.
A seguir, listamos cinco países que, em diferentes
medidas, redobraram seus esforços para adaptar os cidadãos à nova fase do
desenvolvimento:
Portugal
Desde que a OCDE, a organização das nações
desenvolvidas, começou, em 2000, a aplicar um sistema de avaliação entre seus
afiliados, Portugal registra melhoras constantes nos indicadores. Em 2015, os
estudantes do país conseguiram notas acima da média em ciências, leitura e
matemática. Um dos segredos é o maciço investimento nas famílias e nos
primeiros seis anos de uma criança. Entre 2003 e 2015, o total de mães com
ensino secundário completo subiu 41%. Quanto maior a escolaridade materna,
mostram os estudos, maior o rendimento dos filhos na escola. Nem a crise
econômica que devastou Portugal em 2008 interferiu nas políticas públicas.
A educação básica em Portugal é dividida em três
ciclos e leva 12 anos para ser concluída. O Ensino Superior contempla dois
sistemas: universitário e politécnico. No primeiro, são conferidos aos
estudantes os graus de licenciatura, mestrado e doutorado. Os institutos
politécnicos concentram-se na formação profissional prática.
Finlândia
Referência mundial, a Finlândia constantemente aparece
no topo das avaliações de qualidade da educação. A revolução no ensino começou
ainda nos anos 1960, quando os impostos gerados pela indústria de papel e
celulose sustentaram a adoção das políticas de Bem-Estar Social. O ensino
gratuito e universal foi adotado na década de 70 e desde então mira o
conhecimento interdisciplinar e não estanque. Matemática, ciência e música são
apresentadas aos estudantes por meio de projetos integrados, forma de combinar
os conteúdos e adaptá-los ao cotidiano dos alunos. Como a individualidade é
estimulada e não reprimida, uma sala reúne até cinco níveis de estudantes em
torno de uma mesma tarefa.
O governo incentiva a adoção de novas tecnologias e
modelos de aprendizagem. Os professores são valorizados e exigidos. É preciso
mestrado para dar aulas em uma escola de Ensino Fundamental. Na Finlândia é
mais difícil ser professor – em 2015, a taxa de aprovação nos cursos de
formação de professores foi de 4,2% – do que médico, cujo índice de aprovação
nas faculdades é de 8,8%.
Canadá
Em 2015, o país ocupou o terceiro lugar do ranking
da OCDE em leitura e ficou entre os dez melhores na avaliação geral. O sistema
canadense organiza-se a partir de províncias autônomas, ou seja, não há um
sistema nacional, mas políticas distintas em cada localidade. Um traço comum no
sistema é, no entanto, a igualdade de oportunidades. Há um esforço para
integrar o grande contingente de migrantes que todos os anos aporta no país. Em
geral, um aluno de fora leva três anos para alcançar uma performance semelhante
aos estudantes de origem canadense.
São também expressivos os investimentos em
alfabetização, treinamento de professores, bibliotecas e reforço para alunos
com dificuldade de aprendizagem.
Os bons índices refletem ainda a homogeneidade
socioeconômica. Há pouca diferença de rendimento escolar entre os alunos mais e
menos pobres. No último Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes, a variação de notas causada por diferenças socioeconômicas foi de
apenas 9%, em comparação aos 20% da França e 17% de Cingapura, para citar dois
casos.
A rede pública abriga o maior número de estudantes. Em
Ontário, 94% dos alunos estão matriculados em unidades públicas. De maneira
geral, o sistema repele a lógica “academicista”, de fixação de conteúdos, e
estimula a autonomia. Aos 14 anos, os canadenses podem escolher as disciplinas
que mais interessam e montar a própria grade curricular. A educação obrigatória
vai até os 16 anos.
Alemanha
Depois de um contingenciamento na última década
causado pela crise econômica de 2008, a Alemanha anunciou a retomada dos
investimentos públicos. Serão 160 bilhões de euros a mais entre 2021 e 2030
para universidades e centros de pesquisa científica independentes. “Com isso,
estaremos garantindo a prosperidade do nosso país no longo prazo”, afirmou Anja
Karliczek, ministra da Educação, durante o anúncio dos novos investimentos.
Além de mais dinheiro para a contratação de
professores, as universidades terão acesso a um fundo de 150 milhões de euros
destinado a projetos especiais.
Estônia
Na última edição do Pisa, o ranking da OCDE, a
Estônia apareceu em terceiro lugar, atrás apenas de Cingapura e Japão. O
sucesso educacional recente do pequeno país báltico sustenta-se em um tripé:
acesso universal e gratuito em todas as etapas do ensino, autonomia garantida a
professores e escolas e valorização da educação pela sociedade.
O governo investe atualmente 6% do PIB em educação.
Enquanto o Brasil gasta 6,6 mil reais com estudantes do Ensino Fundamental, a
Estônia aplica o equivalente a 28 mil reais. Boa parte do dinheiro garantiu o
aumento de renda dos professores, que cresceu 80% nos últimos dez anos. O piso
salarial é de 1,2 mil euros, cerca de 5 mil reais.
Um currículo nacional orienta os ciclos de
aprendizagem, mas as escolas têm autonomia para aplicá-lo da maneira que
acharem melhor. Como na Finlândia, as disciplinas são integradas e não
respeitam limites burocráticos. Ética e educação digital estão entre os temas
mais explorados. Exige-se no mínimo mestrado dos professores.