sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O DISCURSO DO PÁSSARO PERDIDO




O discurso do pássaro perdido

Que fantasma é este  que se assombra
com a sombra do próprio movimento?

De onde vem este gelo que nos corta
o coração que guarda o que é futuro ?

Quem escavou o ódio nesta noite,
este hálito tão sujo e tão sombrio ?

Quem disse essas palavras tão cansadas,
erguidas como um muro contra nós?

Um corvo foge no palácio imenso
como se fosse o vento da desgraça.
As suas asas são a própria cinza,
 a sua voz , o verme da tristeza.

Um outono rasgou nesse discurso
o fantasma de todos os crepúsculos
e as palavras perderam-se dispersas,
sem carne, sem luz e sem futuro.

Olhámos esse amargo entardecer
já dentro de uma outra companhia.
Pegámos com cuidado o novo dia,
sabendo que só falta caminhar.

O gavião das sombras recolheu-se
à triste solidão do seu discurso
 e aí ficou gelando a sua cólera,
gelando-se a si próprio ainda mais.
                                 
                             RUI  NAMORADO

                                          [27/11/15]

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