sábado, 16 de setembro de 2017

O PESSIMBRISMO - doença infantil do eleitoralismo



O pessimbrismo - doença infantil do eleitoralismo

Nas instâncias de terapêutica psicossocial sopra uma brisa de preocupação. Em Coimbra, na pré-campanha para as eleições autárquicas fez uma insidiosa aparição uma nova maleita: o pessimbrismo.

Alguns conimbricenses, envolvidos numa sofreguidão de hostilidade à  atual maioria  do PS na vereação municipal, deixaram-se envolver num denso véu de crispação. Deixaram-se possuir por uma raiva profunda tingida de ansiedade, que lhes chegou aos ossos, acabando por lhes sorver a alma e turvar o entendimento.

Foi assim que passaram a olhar para Coimbra sem a verem. Realmente, por mais que olhassem, apenas se viam a si próprios. Já não conseguiam ver os seus pontos luminosos e os seus  pontos obscuros, a luz das suas virtudes e a obscuridade dos seus defeitos. Já não conseguiam distinguir no passado o que iluminava o futuro e o que lembrava o sacrifício e o sofrimento de tantos. Tudo lhes projetava no espírito um cinzento murcho, uma paisagem carcomida e sem esperança, que diziam nascida do nada nos últimos quatro anos. 

Essa nuvem insalubre que os envolveu tolhe-lhes o entendimento. Não tendo uma visão objetiva do que em Coimbra está mal e incompleto, do que está bem e pode ser melhorado, bem como do ritmo que o progresso pode ter, podem na melhor das hipótese dizer coisas, mas ficam longe de saber como as podem realizar. E ao intuírem isso, o seu pessimbrismo agrava-se. Tudo parece afligi-los.

Olham para a estátua de Joaquim António de Aguiar na Portagem e dizem: “Que tem isto a ver com a estátua da liberdade?”.
Contemplam o dorso de prata do Mondego e pensam:” Velho basófias, não te comparas ao Sena, nem ao Tamisa e muito menos ao Tejo”.
Deixam incrustar-se-lhes no olhar a velha torre da Universidade e comparam: “Não chega aos calcanhares da Torre Eiffel”?
Leem no jornal uma notícia auspiciosa sobre a Universidade de Coimbra e clamam: “Fraquinha, fraquinha, quando poderá chegar ao nível de Oxford ou de Harvard”?
Passam pelo Museu Machado de Castro e resmungam : “ Ou isto ou o Museu do Louvre”.
Implacáveis perguntam : “Como podemos levar a sério uma cidade que tem menos habitantes do que um bairro de São Paulo”?

Uma angústia profunda se apossa assim dos seus agitados espíritos pelo facto de Coimbra não ser em simultâneo Nova Iorque, Paris, Londres, Oxford, Lisboa, São Paulo e muitas outras cidades. Ser um quase nada perante essa imensa metrópole imaginária.
Todavia, se o pessimbrismo os não tivesse diminuído, teriam podido lembrar-se que, do outro lado dessa mesma angústia, pode estar  uma verdade simples e trivial: por mais que todas essas cidades se juntem ou se conjuguem não conseguirão ser Coimbra. Esse pequeno extrato de senso comum não é mais do que isso, mas a falta dele é um dos aspetos de pessimbrismo.
Não é por isso estranho que tantos estudantes de outros países decidam vir estudar para Coimbra, que tantos turistas se deem ao cuidado de nos visitar. Por ser diferente de outras cidades e não por copiá-las, com maior ou menor fidelidade. Por querer estar em pleno no mundo com autenticidade, nunca por se deixar diluir nele como coisa urbana incaraterística e a-histórica.

Mas os pessimbristas têm uma dificuldade acrescida. Ao acentuarem até ao paroxismo uma imaginação negativa de Coimbra, tornam mais ostensiva a sua incapacidade para sequer imaginarem como sair dessa ficção negativa, tornando ainda mais difícil dar o mínimo de verosimilhança às suas capacidades para tirarem Coimbra do buraco onde imaginam que caiu. Quanto mais tingem de negro o seu diagnóstico, mais põem a nu a sua objetiva incapacidade para reverterem os males que dizem existir .
 A ficção que segregam para apoucar a gestão camarária atual acaba por apoucar ainda mais as suas virtualidades como candidatos. O seu diagnóstico como uma nebulosa fantasiosa e deprimente vale por si próprio. Os riscos inerentes à sua chegada ao poder tornam-se clamorosos.

No entanto, com o passar dos dias, nas instâncias de terapêutica psicossocial  começa a ganhar corpo uma convicção: o caminho mais adequado para se curarem consistentemente os que sofrem de pessimbrismo é uma cura prolongada de oposição

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